A Parábola
do Filho Pródigo tem uma universalidade impressionante. Poucas histórias
bíblicas são tão conhecidas quanto esta.
Hoje podemos
revisitar a parábola bíblica em questão e reconhecer dois pródigos: o filho que
deixa a casa e aquele que se perdeu dentro dela. Um e outro, o esbanjador e o
amargurado, precisam recuperar sua filiação. E é somente a recepção amorosa do
pai que pode oferecer o ambiente para tal transformação. Aliás, o grande
pródigo da parábola é o pai. Ninguém gastou mais do que ele nesta história. Ele
esbanja compaixão, cuidado, perdão, investimento paternal de toda sorte. Tenho
pensado nesta cena narrada por Jesus como contendo razões para se viver uma
vida inteira. Alguém já disse que todo o Evangelho está contido ali.
Se é assim,
no abraço e ambiente ofertados pelo pai aos filhos que voltam podemos também
antever o retorno da igreja ao lugar de onde nunca deveria ter partido. Se
considerarmos que a igreja um dia já teve como centro o colo de Jesus, os ensinamentos
vivos do mestre e toda a riqueza da demonstração de sua comunhão com o Pai, que
embevecia um grupo familiar de judeus do primeiro século, o ambiente que
sucedeu a este tomou caminhos bem diferentes. Que abismo entre o original e
outros ambientes aos quais tem sido inadvertidamente dado o nome de igreja ao
longo dos tempos! Da intimidade com Jesus e seu Espírito, rapidamente a igreja
se deslocou para um endereço. Tendo começado de forma familiar e feito muitas
famílias-discípulas, não demorou a trocar a relação pela reunião, a intimidade
e a partilha pelo evento. Não nos estranha o fato de que lares, inicialmente,
casas-endereço em seguida, passaram logo a ser assumidos como igrejas. O
resultado não poderia ser outro: a família foi desalojada e deu gradativamente
lugar a um funcionamento eclesiástico. A consequência foi o aparecimento dos
templos, das catedrais, das instituições e impérios religiosos. Tudo muito
diferente do colo e da companhia de Jesus. A vida simples e cotidiana, na qual
os sinais do Reino se evidenciavam, foi substituída por cerimônias e rituais.
Estilizou-se a vida, e os vínculos no Espírito Santo cederam lugar à
organização.
Entretanto,
com a graça de Deus, a igreja pródiga está retornando. Se lembrarmos que a
partida foi um distanciamento gradativo que deixou o colo de Jesus, depois a
família, em seguida as casas e foi parar no templo e em todas as suas
decorrências institucionais, o caminho de volta deverá ser percorrido de forma
inversa. Em primeiro lugar, as divisas das estruturas precisam cair; a seguir,
a cultura do templo; posteriormente, a volta às casas será a consequência
natural de quem passa a ver pouco sentido no ambiente anterior. Mas a casa não
é a pousada definitiva. Igreja nas casas faz parte da transição – não da permanência
– que pretende devolver a igreja à família, e esta à intimidade estreita com
Jesus.
Já
conseguimos ouvir o barulho dos preparativos da festa para a igreja que estava
morta e reviveu, que tinha se perdido e foi encontrada? Bem, isso vai depender do
ponto do retorno em que nos encontramos.
Releitura de
Mauricio Bronzatto
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