terça-feira, 2 de abril de 2013

OS PROBLEMAS EM FUGIR DE UM PROBLEMA.


No princípio, Deus amou. Por causa do Seu amor, Ele criou. No livro de Gênesis, Deus lança diversas afirmações comparadas ao som de uma orquestra. “Haja luz” (Gn. 1:3) foi a primeira afirmativa e, como uma nota musical, soou das cordas vocais do Criador em direção a terra. Logo em seguida, Deus ordenou: “haja uma expansão no meio das águas” (Gn. 1:6), e a melodia apressou-se em obedecer a ordem divina, separando águas e águas.

Nos primeiros dias da criação, cada palavra que fluía do coração de Deus desenhava formas e cores que enfeitavam a terra. Árvores, sementes, o sol, a lua e os animais, cada qual brotava de um novo acorde, despertados pelo som celeste. Surge o primeiro homem e, mais uma vez, são as cordas vocais do próprio Deus que se encarregam de anunciar o sonho uníssono da Trindade: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” (Gn. 1:26). Da mesma boca sai o sopro vivificante, inaugurando a vida nos pulmões de Adão.

O sopro divino passeava pelo corpo do novo homem. Quando Deus decide criar a mulher, busca a matéria-prima na mesma região dos pulmões: “E da costela… formou uma mulher” (Gn. 2:22). Logo na criação, Deus já estabelecia a missão da mulher. Formada de uma costela – parte do corpo que tem a função de proteger, principalmente, o pulmão –, Eva já nascia com a incumbência de fornecer abrigo. Não foi à toa que Deus escolheu a mulher para carregar no ventre as vidas que haviam de existir, além de “programar” uma farta produção de leite no corpo feminino para o sustento de Seus filhos.

Pronto. Estava concluído o trabalho da criação.

De repente, um agudo estridente fere os ouvidos de Deus. A perfeita ordem de Sua melodia desafina com a chegada do pecado. Neste exato momento, após tantas afirmativas divinas, irrompe no Universo a primeira pergunta do Criador. Em Gênesis 3.9 vemos o primeiro ponto de interrogação vindo da parte de Deus: “Onde estás?”. A questão revela duas coisas bastante pertinentes: um Deus que se prontifica a resolver problemas e sai à procura daqueles que criou e ama intensamente e a nova imagem do homem (agora decaído), que foge e procura se esconder.

Já é conhecido por todos o que vem a seguir. As consequências da desobediência de Adão e Eva atravessaram séculos e continuam a fazer vítimas por meio do pecado. O que gostaria de chamar a atenção neste episódio tão antigo é a atualidade com que a postura adâmica se manifesta em nossas vidas. Basta aparecer um problema (seja o próprio pecado ou uma situação comum do dia a dia) e lá estamos nós, escondendo-nos atrás das árvores ou cobrindo-nos com folhas de figueiras.

Esse tipo de circunstância pode ser facilmente notado, por exemplo, quando existe a necessidade de perdão. Não é fácil romper a camada de orgulho que se formou após uma calorosa discussão, ainda mais quando, aparentemente, se tem a razão. É interessante pensar que quando Jesus falou a respeito de se perdoar setenta vezes sete (ao dia!) não disse nada sobre “depende de quem estiver com a razão”. Neste caso, como aconteceu com Adão e Eva, o casulo da fuga se apresenta como o abrigo mais atraente e seguro, mas torna-se um veneno mortal para o amadurecimento de uma vida em Deus.

Ao ignorar o problema ou, literalmente, fugir do lugar onde ele se encontra, a sensação que nos afeta é sempre a mesma: problema resolvido! Se a intenção é viver uma vida de aparências, esse é um bom mantra a ser repetido vida afora. Porém, se o desejo é conhecer uma realidade celestial, estamos falando de sacrifício e humildade – postura adotada por Deus no momento da queda. Quando é Ele quem se aproxima primeiro – “onde estás?” –, a humildade sobressai. O sacrifício também está implícito na ocasião, pois o Deus-Todo-Poderoso não poderia e nem deveria inclinar-se até nós. Mas Ele o fez, impregnado de um amor incondicional.

Crescer é caminhar pela porta estreita. Quando nos deparamos com um determinado problema e fugimos – contaminados pela covardia de Adão e Eva –, deixamos escapar a oportunidade de amadurecer nos caminhos de Deus. Quando Caim matou seu irmão Abel, a pergunta – mais uma vez – partiu de Deus: “Onde está Abel?” (Gn. 4:9). Caim jamais tocaria no assunto se Deus não o questionasse, pois é mais fácil esconder do que revelar.

Noé foi o primeiro homem que não fugiu de seu problema – e tinha um do tamanho de uma arca. Ouviu a ordem de Deus e sabia que a obediência ao pedido dEle lhe custaria ouvir as chacotas de seus contemporâneos. Ainda sim, obedeceu. Podia ter fugido ou se justificado numa desculpa até coerente para a época: a inexistência de chuva. Fico aqui pensando na coragem de Noé. Ir contra as leis físicas da natureza para cumprir uma gigantesca e trabalhosa ordem de Deus é realmente de se tirar o chapéu. Não foi à toa que Deus escolheu sua família para repovoar a terra.

A Bíblia está repleta de homens que encararam seus problemas e renunciaram a alternativa “fuja!” apresentada pelo pecado. Seguindo a ordem cronológica bíblica, nosso próximo personagem é Abraão. Correndo o risco de ver sua família acabar mesmo antes de surgir sua descendência – pois Sara poderia ter recusado a ordem divina, direcionada a seu marido, de partir “…para a terra que te mostrarei” (Gn. 12:1). Nesse caso, um problema conjugal seria previsível, mas não foi o que aconteceu. Sairia do ventre de Sara o filho da promessa, por isso mesmo foi Deus quem sustentou aquele matrimônio. Percebe? Quando nos inclinamos à vontade de Deus, nada está fora do lugar, tudo tem o seu propósito.

Poderia citar ainda outros exemplos, pois temos que concordar: a bíblia está cheia de homens com problemas. A promessa de Jesus em João 16:33 (“…no mundo tereis aflições”) foi anunciada muito tempo depois dos acontecimentos relatados em Gênesis, mas já estava sendo cumprida na vida de muitos personagens do Antigo Testamento. A promessa se fez presente também na vida dos apóstolos, do próprio Jesus e continuou sendo observada na vida de Paulo e tantos homens de Deus que ousaram viver o evangelho. Note que os problemas não são uma novidade para os filhos de Deus. Pela lógica divina, são até necessários para o desenvolvimento de uma vida santa. Resta-nos decidir o que fazer diante dos próximos problemas: resolver ou fugir. Deus, em seu imenso amor, continua a perguntar: “Onde estás?”.

Extraído do jornal Grupo News.

Claudio Isidoro. 

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