A menina e
o mar
Conta uma lenda que, muito antigamente, quando nem existia
televisão ainda; quando viajar era para poucos e só se fazia de trem; quando a
vida era ganha com muita dificuldade; quando as crianças jogavam bola de gude
nas calçadas de barro, empinavam pipa e brincavam de pique-pega; um tempo em
que a vida passava tão lentamente que crescer durava uma eternidade; quando
telefone e farmácia se escreviam com “ph” e para ligar para uma pessoa, em
outra cidade, era preciso pedir à telefonista, que se conhecia pelo nome, para
completar a chamada; pois bem, é dessa época a história de uma pequena menina
que morava no interior, numa cidadezinha cujo nome, até hoje, nem consta nos
mapas.
Um lugar no meio do nada, longe de tudo; quase um exagero
chamá-lo de “cidade”. Estava mais para um pedaço de estrada, com um pequeno
conglomerado de casas humildes que eram utilizadas como armazéns, bares e uma
pequena pousada para quem passava por ali de viagem.
Mas tudo bem. Deixa como está! Vamos chamar de cidade assim
mesmo.
Esta menina observava os viajantes chegarem à sua casa e
falarem sobre os lugares por onde passavam, contarem histórias da cidade
grande... Mas havia algo que sempre a intrigava. Eles falavam de uma coisa
chamada “mar”.
Para uma menina acostumada à poeira da estrada de chão e à
sequidão do sertão, onde água, quando havia, era só na torneira ou na bica,
tentar conceber a imagem de um lugar cheio de água que cobria todo o horizonte,
até onde os olhos podiam alcançar, era um misto de curiosidade, incredulidade e
temor.Aos poucos, dentro daquele pequeno universo, a pequena menina foi
crescendo. Um dia, brincar de boneca já não era tão interessante, e a vida
naquele bucólico vilarejo ficava chata demais com o passar do tempo. Seu único
desejo era poder sair daquele lugar para conhecer o tal do “mar”.
Ela sempre ouviu falar sobre o barulho que ele fazia quando
quebrava suas ondas nas rochas, sobre como conseguia engolir embarcações
gigantescas e até mesmo o sol todos os dias. Ela ouvia histórias dos tesouros
que o mar escondia e dos peixes que poderiam ser maiores do que a sua própria
casa. A menina ficava curiosa, tentando imaginar como as pessoas conseguiam
atravessar de um país a outro através das suas águas. Era uma imagem grande
demais para sua pequena mente alcançar, mas mesmo assim ela se apaixonava cada
vez mais por aquele sentimento. Chegava até a sonhar com o que poderia ser o
mar ou, pelo menos, com o que ela achava que seria o mar.
Seu aniversário de 15 anos se aproximava, e ela pediu ao pai
para não fazer festa. Queria uma viagem de presente. Naquela época, uma moça
fazer 15 anos era um acontecimento com porte de desfile de feriado nacional com
honras militares. Mas ela estava disposta a abrir mão daquele momento tão
esperado por sua família para realizar o grande sonho de sua vida: conhecer o
mar.
O pai não teve escolha, a não ser cumprir o desejo da filha.
Afinal eles nunca haviam viajado para tão longe juntos, e era justo realizar o
único pedido da pequena filha que estava virando moça.
Viagem preparada, passagens compradas no guichê da estação
de trem, teve até bandinha para se despedir da menina no dia do seu
aniversário. Era uma longa jornada até chegar ao litoral, mas a menina nem
prestava atenção nas paisagens que iam aparecendo na janela do trem.
— Pai, você já viu o mar? — perguntava a menina, tentado
tirar o máximo de informações do pai para construir sua própria imagem do mar.
E ele tentava descrever como podia, ora rindo, ora demonstrando impaciência com
a quantidade de perguntas da filha.
A viagem levaria uns dois dias, mas ela não se importava,
valia o sacrifício para ter o sonho realizado.
O grande encontro
Com a aproximação do litoral, chegou, enfim, o grande
momento. A menina, eufórica, nem quis passar no hotel, foi primeiro para a
praia. A primeira lágrima escorreu dos olhos dela. Era lindo! Nada do que
imaginou era tão grande e estonteante como o que ela estava vendo e
presenciando naquele momento.
— Pai, eu posso chegar perto dele?
— perguntou ao pai, sem conseguir segurar as lágrimas misturadas
com o sorriso mais radiante que ele já tinha visto nela. Antes que o pai
respondesse, ela já corria pela areia da praia tirando os sapatos.
A menina só queria chegar perto o suficiente para descobrir
se a água eratão salgada e gelada quanto falavam. Já começava a sentir a areia
molhada na sola dos pés e, de repente, a euforia se misturou com um medo que
ela nunca havia sentido antes. Todas as histórias que ela já tinha ouvido sobre
o mar, até então, começaram a vir à sua mente ao mesmo tempo. A violência do
barulho das ondas quebrando na areia segurou-a por um momento até que,
calmamente, a sobra de água de uma onda avançou pela areia e cobriu seus pés
lentamente.
Ela levou um susto, quis fugir, mas aqueles poucos segundos se
eternizaram e a paralisaram enquanto a água escorria novamente para o mar
fazendo cócegas na sola dos pés da menina.
O medo aos poucos se transformou em confiança. A menina
tentou chegar mais perto do mar, e o mar também se aproximava dela com ondas
cada vez mais fortes. Ela teria que escolher entre não provar o mar ou molhar o
único vestido que havia ganhado de aniversário. Até que, sem prévio aviso, de
repente, uma grande onda a cobriu e a molhou por completo. Pronto, já não havia
mais o que escolher, a surpresa da onda a fez se entregar por definitivo àquela
nova experiência. A menina finalmente encontrou o mar, e o mar a encontrou
também.
Encontrando a Deus e
sendo encontrado por ele
Em nossas vidas, também é assim: nós nos relacionamos com
Deus da mesma forma que esta menina com o mar. Vivemos na sequidão e
expectativa de encontrar um Deus que, às vezes, só conhecemos de ouvir falar.
Ouvimos o testemunho de terceiros sobre suas experiências com a regeneração,
cura e perdão experimentados em Deus. Nada do que imaginamos pode chegar perto
do que Ele realmente é e significa, mas, muitas vezes, quando temos a
oportunidade de prová-lo e conhecê-lo de fato, temos medo de molhar nossa
aparência.
Perdemos, então, a oportunidade de vivenciar este poder de
Deus em nossas vidas. Para experimentá-Lo, precisamos nos envolver
profundamente.
Conhecer Deus por inteiro é a maior experiência que alguém
pode desejar e alcançar em toda a sua vida. Nada se compara ao seu poder e
glória, nenhum oceano consegue ser maior ou mais profundo que o amor e perdão
nEle encontrados para cada um de nós.
Buscá-lo pode ser uma longa jornada, mas quando nos
encontramos com a plenitude de Sua Glória, não conseguimos deixar de tocá-lo ou
de ser tocados por Ele. Quando encontramos Deus, ao mesmo tempo somos achados
por Ele.
Algumas vezes somos pegos de surpresa por Deus e depois
disto não há mais como voltar atrás.
Um dia, até mesmo o mar se rendeu à Palavra Viva de seu
Criador. Quem tem poder para criar e dar ordens ao mar tem poder para trazer
abundância de água a qualquer deserto. Mais que o mar possa fazer, quem o criou
deseja transformar a sequidão do pecado e da morte em abundância de água viva
de graça e misericórdia. Permita, hoje, que a onda do amor de Deus inunde sua
alma e lhe traga vida.
O Deus que pairava sobre
as águas o(a) abençoe rica, poderosa e sobrenaturalmente!
Fonte: www.ovelhamagra.com
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