A visita

  Alguém bateu em minha porta. Ah, logo hoje que estou tão ocupado. Perguntei quem é e uma voz me respondeu: Deixe-me entrar! Sem paciência alguma e um tanto quanto resistente, fui ver quem era. Ao abrir me deparei com um homem simples, tinha vestes humildes e um olhar tão penetrante que não se fazia necessário um cumprimento formal para que me inspirasse um certo tipo de confiança.

  Um pouco constrangido pedi que entrasse, mesmo minha casa estando tão bagunçada. Ele não pareceu se importar, abriu um largo sorriso e alguns passos adiante, já estava em minha sala. Ele tinha uma essência excepcional, seu perfume era suave e recendia toda a casa.

 Nós nos assentamos e, só então, me lembrei que não havia nem mesmo lhe perguntado seu nome.

 - Quem é você? Qual o motivo da sua visita?

 - Não se lembra de mim? – Replicou o homem, ainda sorrindo.

 Ele me confundia, me olhava com aquele olhar compassivo, o qual eu nem conseguia encarar, me tratava como alguém tão querido e eu realmente não fazia a menor ideia de quem era. Percebendo meu desconforto, o homem logo emendou outra pergunta:

 - Como tem estado sua vida?

 Ah, realmente me irritei! Quem era aquele homem misterioso? O que ele queria comigo? De que lhe importava a minha vida e o que eu fazia com ela? Levantei meus olhos disposto a encará-lo pela primeira vez e dizer-lhe algumas verdades, mas antes que eu lhe proferisse a primeira palavra ele se levantou e caminhou em direção a porta. Ele sabia que sua pergunta me enfureceu e como o mais educado dos seres, decidiu se retirar.

 Mais uma vez o seu olhar me constrangeu. Quando vi que ele partia meu coração se angustiou e minhas emoções se chocaram. A alguns segundos atrás eu estava disposto a expulsa-lo e agora me vi perdido enquanto sua presença e aquele bom perfume, me deixavam. O que aquele homem fez comigo? Eu estava tão bem aqui sozinho... Eh... Ok, a minha casa está um pouco bagunçada, mas eu... Eu estava sobrevivendo e...

 Ah, a quem eu queria enganar? O homem que ia em direção a porta havia me irritado, pois tocara em minha dor, me confrontado intimamente. Sua pergunta abriu um buraco diante de mim, tão poucas palavras me fizeram lembrar de todos os erros do passado, abrindo feridas falsamente cicatrizadas...

 Eu tinha duas escolhas, deixa-lo ir sem nem mesmo saber o seu nome e sentir o vazio que me faz a falta dele, ou correr e desfrutar daquela presença que, apesar de me confrontar, parecia me fazer esquecer de todo peso que minha vida acumulava... Quando me dei conta já estava correndo em sua direção:

 - Hey, não vá! Eu preciso de você! – Essas palavras soaram tão desesperadamente que por um momento me envergonhei, sentindo-me humilhado.

 Mas o homem se virou e, com um sorriso ainda maior do que a primeira vez em que o convidei a entrar, retornou. Ele trazia em seu olhar ainda mais amor, algo como um entusiasmo pelo novo convite, ele não desistiu de mim e me envolveu mais uma vez naquela presença tão cheia de ternura. Sentou-se e, antes que falasse qualquer coisa, eu escolhi responder a pergunta que tanto me havia incomodado:

 - Olha, eu nem sei quem você é, mas se quer saber da minha vida, ok. A minha vida não está nada bem, eu aparentemente tenho tudo que preciso, mas sempre acabo por magoar quem eu amo, coloco minha cabeça no travesseiro e não consigo dormir, tenho me entregado a atitudes e vícios que eu sempre repudiei para esquecer essa dor e esse vazio que me assolam, mas é tudo vão, tudo sempre volta. Eu não aguento mais, é pressão de todos os lados e eu me sinto cada vez com menos vontade de viver. – Respondi com um desespero guardado por anos e não pude evitar que lágrimas descessem pelo meu rosto. – Sabe, por vezes paro e me pergunto: Onde está Deus?

 Ele não respondeu minha pergunta. Mas aquele olhar tão meigo chorou ao me ouvir, senti como se minha dor doesse nele também e ele não parecia se importar. Suas mãos tocaram meu rosto buscando limpar as lágrimas derramadas e então...

 - Espere! O que são essas marcas em suas mãos? Como você se machucou dessa forma? Você está bem? Eu posso... Oh... É você?! Seus olhos, esse sorriso, sua forma de agir, sua presença transformadora... Como não reconheci antes, Jesus? – Eu sorri timidamente, ainda um pouco confuso.

 Ele me abraçou tão calorosamente que minha confusão se dissipou. Já não mais com o sorriso contido e gracioso de antes, mas com uma risada alta de um amigo que se reencontra depois de anos Ele disse:

 - Você não perguntou por mim? Eu estava ali, esperando por você. Agora aqui estou! A propósito, obrigada por abrir a porta!

 Seus olhos brilhavam como o de uma criança e eu sentia que os meus também. Oh, eu não acreditaria se alguém houvesse me contado, mas Ele me visitou e então eu O convidei a cear comigo e Ele ficou. A presença dEle tem me cativado dia após dia, desde então. Sabe, Ele não deixou de fazer perguntas que me confrontam, mas mesmo nelas eu percebo o quanto Ele me ama...

 Hoje Ele mora comigo e, entre outras coisas, me ensinou que minha casa é meu coração. Me ajudou a limpá-la e organizá-la pra que Ele se sinta ainda mais confortável e eu O tenha como meu melhor amigo pro resto da vida.

 Essa foi a minha páscoa, o dia em que abri a porta e ressuscitei Jesus em mim! Que se a sua ainda não aconteceu, esteja próxima, amém?

Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo. Apocalipse 3:20

(Autor Desconhecido)