Zalika, menina de pele negra, estava sentada no terreiro de casa, olhando para o homem de terno encardido que conversava com sua mãe.
O homem ela conhecia. Era um missionário que sempre estava pelas vilas ali perto, acompanhado de um tradutor chamado Taú. Ele falava de um tal Jesus, de sua morte numa cruz e de um lugar chamado céu, onde haveria tudo de bom, para sempre.
- [Zalika já tem idade para ser vendida] - dizia a mãe da menina em um dialeto africano, enquanto Taú traduzia o missionário.
A conversa já durava um bom tempo, e a cada frase o pequeno coração da menina se apavorava ainda mais. Sua mãe falava em vendê-la para comprar alimento para a família. Taú traduzia as palavras do pastor, mas nenhuma parecia convencer a mãe. Zalika estava com medo. Não sabia o que acontecia com as meninas ou meninos vendidos; só sabia que eles nunca mais eram vistos.
- [Então o missionário comprará sua filha] - disse Taú e a mulher silenciou.
- [Não a venda para os traficantes que rodeiam a vila. O missionário a levará agora, se a senhora permitir.]
O Pastor Jacó tirou algumas notas do bolso do paletó suado e as estendeu para a mãe da menina. Ela pegou o dinheiro e o contou, gritando em seguida:
- [Menina! Pegue o que é seu e vá com esse homem daqui].
Aproximando-se de Zalika, Taú lhe falou baixinho:
- [Não precisa pegar muita coisa. Você não vai precisar.]
A menina entrou no casebre armado com tocos e coberto de palha. Além de uma boneca suja e esfarrapada, não tinha mais o que pegar. Saiu com a bonequinha pendurada na mão e olhou para a mãe que sequer virou-se para ela. Zalika esperava alguma palavra de despedida; talvez um beijo, ou um abraço. Nada recebeu.
O missionário Jacó segurou em sua mão encardida e a conduziu para dentro de um carro. A menina olhou para trás, fitando dois irmãos tão negrinhos como ela, sentados no terreiro. Pensou sobre o futuro deles e temeu pelo próprio futuro, pois não sabia o que lhe iria acontecer.
O carro sacolejou na estrada de chão, levantando poeira vermelha. Jacó tomou algo de um cantil e o estendeu para menina, dizendo algumas palavras que ela não entendeu. Mesmo assim tomou do líquido fresco do cantil. Era algo tão bom, sem gosto e ao mesmo tempo tão gostoso.
- [É água limpa] - explicou Taú em seu dialeto e riu com a expressão de surpresa da garota. Sabia que ela, possivelmente, nunca havia tomado água que não fosse suja.
Quando o carro finalmente parou na fronteira, soldados olharam para dentro e começaram a discutir qualquer coisa com Jacó e seu tradutor. Zalika suspeitava que o motivo da discussão era sua presença naquele carro, pois os soldados gritavam e apontavam os dedos e armas para ela.
Mais uma vez Jacó colocou a mão no bolso e a menina lembrou-se de suas histórias sobre Jesus: "Ele pagou um preço por você"; "Jesus, na cruz, pagou com a própria vida para que você pudesse ser salva." Será que o missionário estava, naquele momento, pagando por ela?
Os soldados abriram caminho e Taú limpou o suor da testa, voltando a falar com Jacó, sem ela conseguir entender a língua deles.
Depois de muito tempo na estrada, entraram numa cidade, passando por várias ruas e estacionando em frente a uma casa grande de paredes com a pintura corroída.
- [Dora, esta é Zalika] - Taú a apresentou para uma senhora de pele morena, bem mais clara que a sua.
A mulher sorriu e ao mesmo tempo a avaliou, mexendo em seus cabelos fartos e encardidos de poeira e olhando em baixo das unhas imundas. Resmungou alguma coisa que fugiu ao entendimento da menina e a puxou para o pátio da casa, levando-a até um tanque e esfregando-lhe as mãos. A mulher gritou algo para dentro da casa e uma moça veio em seguida, com um copo cheio de um líquido que parecia água barrenta.
- [Prove!] - disse Dora, numa tentativa de falar o dialeto da garota.
Zalika deu uma pequena bicada no copo e depois o tomou de uma vez só, sentindo o gosto adocicado e, para ela, indescritível.
- [Leite com chocolate] - Taú explicou de novo. - [Mais tarde você pode tomar mais.]
Dora a levou primeiro para o pátio, onde seu cabelo foi lavado e cortado. Depois Zalika foi para o banheiro e não acreditou que estava debaixo de um jorro de água limpa. Várias vezes ergueu a boca e fartou-se.
Em seguida a governanta lhe deu roupas limpas e mostrou seu quarto, que era dividido com outras cinco meninas, todas resgatadas das vilas das redondezas; todas vítimas de alguma violência daquele cenário de guerra.
Depois de se arrumar, Zalika olhou sua própria imagem no espelho. Cabelos aparados e penteados. Pele limpinha e rosto sem aquele acúmulo de poeira grudando no canto dos olhos. Havia um belo sorriso naquele rostinho de menina quando outra garota a puxou pela mão e a arrastou pelos corredores da grande casa, até alcançarem uma sala onde havia uma mesa, com várias meninas sentadas. Na ponta estava Jacó, Taú e Dora.
- [Feche os olhos que o Pastor Jacó vai orar.] - disse a nova amiga.
Zalika fechou os olhos e ouviu as palavras sem sentido do missionário. Todas as meninas começaram a se servir. Havia pão, manteiga e um caldo maravilhoso (era apenas macarrão e legumes, mas para Zalika, como eu disse, era maravilhoso). A recém chegada se fartou. Nunca na vida tinha comido algo tão gostoso. Nunca na vida tinha comido em tanta quantidade e, por isso, a fome tinha sido uma parceira indesejável, porém constante. Lembrou-se dos banquetes que o missionário falava quando ia na vila.
- [Você sabe onde está?] - perguntou-lhe a menina à sua frente.
- [Eu sei] - Zalika respondeu com um sorriso franco, revelando um pão dentro da boca. - [Eu estou no Céu!] - e algumas lágrimas caíram de seus olhos.
OBSERVAÇÃO:
É tão fácil falar do amor de Jesus.
É tão fácil falar do céu.
Difícil é levarmos o amor de Jesus; difícil é levarmos o céu até as pessoas.
Difícil, mas não impossível. Não precisamos visitar países da África para isto. Não precisamos ser missionários ou termos ministérios como vários Guerreiros de Jesus tem nesses países distantes. Ao nosso redor, perto de cada um de nós, certamente há alguém esperando eu e você levarmos um pedacinho do Céu para elas. Talvez, esperando que você compartilhe um pedacinho do seu céu com elas.
Eu o desafio, querido leitor, a fazer mais do que falar.
Eu o desafio a levar Jesus e o céu que Ele prometeu, para as pessoas que você pode alcançar.
Liberte alguém você também, cada um precisa se libertar de alguma coisa que faz mal a ela! Leve Jesus!
Deus o abençoe em sua jornada.
Missionária Rúbia Guizi. (http://ensinandomissoesparacriancas.blogspot.com.br/)
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